21 agosto 2008

Mundo corporativo

 
A HISTÓRIA DO RAUL
por Max Gehringer

Durante minha vida profissional, eu topei com algumas figuras cujo
sucesso surpreende muita gente. Figuras sem um vistoso currículo
acadêmico, sem um grande diferencial técnico, sem muito networking ou
marketing pessoal.

Figuras como o Raul. Eu conheço o Raul desde os tempos da faculdade.
Na época, nós tínhamos um colega de classe, o Pena, que era um gênio.
Na hora de fazer um trabalho em grupo, todos nós queríamos cair no
grupo do Pena, porque o Pena fazia tudo sozinho.

Ele escolhia o tema, pesquisava os livros, redigia muito bem e ainda
desenhava a capa do trabalho - com tinta nanquim. Já o Raul nem dava
palpite. Ficava ali num canto, dizendo que seu papel no grupo era um
só, apoiar o Pena. Qualquer coisa que o Pena precisasse, o Raul já
estava providenciando, antes que o Pena concluísse a frase. Deu no que
deu. O Pena se formou em primeiro lugar na nossa turma.

E o resto de nós passou meio na carona do Pena que, além de nos dar
uma colher de chá nos trabalhos, ainda permitia que a gente colasse
dele nas provas. No dia da formatura, o diretor da escola chamou o
Pena de paradigma do estudante que enobrece esta instituição de
ensino'. E o Raul ali, na terceira fila, só aplaudindo. Dez anos
depois, o Pena era a estrela da área de planejamento de uma
multinacional. Brilhante como sempre, ele fazia admiráveis projeções
estratégicas de cinco e dez anos.

E quem era o chefe do Pena? O Raul. E como é que o Raul tinha
conseguido chegar àquela posição? Ninguém na empresa sabia explicar
direito. O Raul vivia repetindo que tinha subordinados melhores do que
ele, e ninguém ali parecia discordar de tal afirmação. Além disso, o
Raul continuava a fazer o que fazia na escola, ele apoiava. Alguém
tinha um problema? Era só falar com o Raul que o Raul dava um jeito.
Meu último contato com o Raul foi há um ano. Ele havia sido
transferido para Miami, onde fica a sede da empresa.

Quando conversou comigo, o Raul disse que havia ficado surpreso com o
convite. Porque, ali na matriz, o mais burrinho já tinha sido
astronauta. E eu perguntei ao Raul qual era a função dele. Pergunta
inócua, porque eu já sabia a resposta. O Raul apoiava. Direcionava
daqui, facilitava dali, essas coisas que, na teoria, ninguém
precisaria mandar um brasileiro até Miami para fazer. Foi quando, num
evento em São Paulo, eu conheci o Vice-presidente de recursos humanos
da empresa do Raul. E ele me contou que o Raul tinha uma habilidade de
valor inestimável: ... Ele entendia de gente.

Entendia tanto que não se preocupava em ficar à sombra dos próprios
subordinados para fazer com que eles se sentissem melhor, e fossem
mais produtivos. E, para me explicar o Raul, o vice-presidente citou
Samuel Butler, que eu não sei ao certo quem foi, mas que tem uma frase
ótima: 'Qualquer tolo pode pintar um quadro, mas só um gênio consegue
vendê-lo'

Essa era a habilidade aparentemente simples que o Raul tinha, de
facilitar as relações entre as pessoas. Perto do Raul, todo comprador
normal se sentia um expert, e todo pintor comum, um gênio. Essa era a
principal competência dele.

Há grandes Homens que fazem com que todos se sintam pequenos. Mas o
verdadeiro Grande Homem é aquele que faz com que todos se sintam
Grandes'.

Nenhum comentário: